A PARÁBOLA DA FIGUEIRA
Introdução
Jesus regressando da área nortenha da Galiléia, após uma semana larga de excursões, entra em Jerusalém, e logo em volta dele estaciona uma não pequena multidão, a qual começou a argumentar sobre a autrocidade ocorrida no templo, em Jerusalém: “E, naquele mesmo tempo, estavam presentes ali alguns que lhe falavam dos galileus, cujo sangue Pilatos misturara com os seus sacrifícios...” (Lc 13.1). Jesus discorda do argumento perpetuado pelos fariseus, de que todos acidentes semelhantes eram a punição de Deus pelos pecados cometidos por esses. Jesus os interpela ainda, acrescentando o acidente natural ocorrido adjacente ao Tanque de Siloé, responsável pela morte de 18 inocentes: “E aqueles dezoito, sobre os quais caiu a torre de Siloé e os matou, cuidais que foram mais culpados do que todos quantos homens habitam em Jerusalém?” (Lc 13.2). As reivindicações da época eram as mesmas de hoje: onde estava Deus quando ocorreram os tsunamis no Japão e Indonésia?; onde estava Deus quando mais de duas mil vítimas morreram no atacado do World Trade Center? — “De que se queixa, pois, o homem vivente? Queixe-se cada um dos seus pecados”. A nação estava em caos total, e os amotinados pairavam em todos os lugares. E, ainda para somar ao sofrimento do povo, os fariseus advogavam, com alma aberta, que todos esses maus acontecimentos advinham do resultado do pecado do indivíduo ou da família — “... Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?” (Jo 9.2). O governador Pôncio Pilatos e o rei Herodes Agripa estavam com as suas soldadelas armadas até aos dentes! Qualquer sinal de desordem, quer dos Zelotes do sul ou dos Galileus do norte, era resultado de chacina imperdoável! Jesus antevendo a desgraça da nação oriunda do seu pecado e da sua rejeição ao Messias, afirma: “Cuidais vós que esses galileus foram mais pecadores do que todos os galileus, por terem padecido tais coisas? Não, vos digo; antes, se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis.” (Lc 13.3)!
Elementos desta Parábola
“E dizia esta parábola: Um certo homem [Deus Pai] tinha uma figueira [estado degradativo de Israel] plantada na sua vinha [estado original de Israel], e foi procurar nela fruto, não o achando; e disse ao vinhateiro [Jesus]: Eis que há três anos [três anos do Ministério de Jesus sobre a terra] venho procurar fruto nesta figueira, e não o acho” (Lc 13.6-7).
Explicação da Parábola
Esta parábola é relatada unicamente no Evangelho de Lucas. A ênfase colocada nela por Jesus, é o arrependimento. A nação à beira do caos físico e espiritual, continuava fazendo ouvido de mercador para os veementes apelos de Jesus! Flávio Josefo sublinha, com exclusividade, os atentados ocorridos no templo de Samaria, assim como no templo em Jerusalém, quando Pilatos suspeitoso de alguns galileus que foram sacrificar em Jerusalém, os matou a todos e, infamemente, deixou que o sangue deles se misturassem com os das vítimas do altar!
A nação à beira do caos físico e espiritual, continuava fazendo ouvido de mercador para os veementes apelos de Jesus!
Os motins estavam presentes por todo os lados de Jerusalém! De repente, ecoa a notícia de que a Torre de Siloé, acidentalmente tinha desabado, matando a dezoito! Um negro véu de medo, dor e incerteza cobre toda a nação. Jesus tem pressa que chegue aquela quinta-feira, para não ser vitimado antes do tempo juntamente com os amotinadores! Enfim, Ele era galileu de coração — Caná, Magdala, Betesaida, Capernaum eram as prediletas cidades do seu ministério! O início da parábola é um status quo da nação de Israel: uma figueira plantada numa vinha. O emblema da nobresa na nação estava em ser chamada em toda a história bíblica, de vinha: “Agora cantarei ao meu amado o cântico do meu querido a respeito da sua vinha. O meu amado tem uma vinha num outeiro fértil. E cercou-a, e limpando-a das pedras, plantou-a de excelentes vides; e edificou no meio dela uma torre, e também construiu nela um lagar; e esperava que desse uvas boas, porém deu uvas bravas.” (Is 5.1-2).
Entretanto, agora, ela perde essa primazia de ser vinha, para ser uma figueira.
Entretanto, agora, ela perde essa primazia de ser vinha, para ser uma figueira. Sempre um profundo desespero e frustração ocorre com aquele que perde certo privilégio à ele oferecido! A nação perdeu, e perdeu muito tristemente! Seus corações se endureceram cada vez mais! Entretanto, o veemente apelo do vinhateiro, que ecoa da terra ao céu, coloca um ar ameno no epílogo da parábola: “E, respondendo ele, disse-lhe: Senhor, deixa-a este ano, até que eu a escave e a esterque.” (Lc 13.8) Os três dispensacionais encerram todo o esforço do dono da vinha em socorrer Israel: Moisés, os profetas e Jesus. Tudo foi aparentemente em vão!
Interpretação da Parábola
O cenário aqui dá-se nos arredores de Jerusalém, próximo às Portas das Águas e da Fonte. Jesus sente saudade de Jerusalém, chora sobre ela, mas Ele tem uma última tarefa a realizar, fora das portas; no Monte Caveira! A vinha foi plantada numa excelente terra — “E contaram-lhe, e disseram: fomos à terra a que nos enviaste; e verdadeiramente mana leite e mel, e este é o seu fruto.” (Nm 13.27); cercada pelo Mediterâneo e o Rio Jordão; da frescura do Tabor ao caldeirão do Deserto de Negev; dos elavados do Líbano ao mais baixos da terra, o Mar Salgado; sem falar na Jerusalém, como a cidade do Rei, o centro da terra — “Assim como estão os montes à roda de Jerusalém, assim o SENHOR está em volta do seu povo desde agora e para sempre.” (Sl 125.2). Três anos era o estabelecido pela botânica para qualquer árvore frutificar. Mas ela não frutificou! A nação não deu fruto de arrependimento, elemento indispensável para que ela fosse perdoada e redimida, conforme o crivo das Bem-Aventuranças. Apesar do profundo amor e clamor de Jesus por ela — “sabendo Jesus que já era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai, como havia amado os seus, que estavam no mundo, amou-os até o fim”; “quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste”; “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” — o estígma nacional não a deixou alcançar o perdão através do arrependimento. A destruição seria inevitável.
O estígma nacional não a deixou alcançar o perdão através do arrependimento. A destruição seria inevitável.
Porque a vinha e as árvores são de propriedade do Pai, Ele tem todo o direito de fazer com ela o que queira! O machado está ao pé da raiz da árvore, João Batista clama deserto adentro; o Pai está de pé para expedir a ordem de destruição, o Filho geme pelas ruas de Jerusalém, pedindo a Deus que lhe dê mais um ano. O Pai aceita seu pedido! Trinta e três anos se vão, e no palácio de Pilatos, o Pai ouve o brado da turba: crucifica-o, crucifica-o! O vinhateiro sobe a Via Dolorosa, ele olha paras as filhas do seu povo, e sussurra a última profecia: “Filhas de Jerusalém, não choreis por mim; chorai antes por vós mesmas, e por vossos filhos.” (Lc 23.28)! Há um silêncio sepulcral por longos 36 anos e, em cada esquina se contempla uma assombrosa insegurança. Um temor por dentro e por fora! E, sem ninguém esperar, e de surpresa, no ano 70; no mesmo dia que Nabucodonosor destruiu a cidade e o primeiro templo, o segundo templo e Jerusalém caem aos gritos escandalosos da armada Romana à ordem do generalíssimo Tito, filho mais velho de Tito Flávio Vespasiano. Mais de dois milhões morrem, entre crianças e mais velhos. O templo desmorona; o ouro do templo, liquefeito, se esguia pelas frestas da Porta Dourada; o véu é levado para servir de tapete nos prostíbulos romanos dos Césares — era o Tisha b’Av, o dia mais escuro do calendário Judaico! A figueira, outrora vinha, é arrancada aos solapos! E então, o zambujeiro — a Pérola de Valor, a Noiva de Cristo — é plantado em seu lugar: “Nisto é glorificado meu Pai, que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos.” (Jo 15.8)! Tertuliano confessa mais tarde: somos de ontem, mas já deixamos vossos templos pagãos vazios!